Campo Maior - 249 Anos



São alguns veios d'água. Antes, os três maiores (para dizer que também fluem córregos, riachos) deslizam serenamente, serpeando na imensidão da planura, por entre flora vária. Lá adiante, ao norte, tocam-se, interligam-se - largo abraço. Daí para a frente, apenas um - Longá -, transportando as águas dos dois outros, segue o curso para o encontro com o maior deles - Parnaíba. Cortando a cidade, o Surubim, farto habitat do peixe que, sugestivamete, dá-lhe o nome. "Surubim, onde os pe(s)cadores pe(s)cam peixes e sereias de coxas grossas e sem escamas na água de suas margens, na maciez de suas moitas mornas" (Elmar Carvalho). Saltos "mortais" da garotada corajosa, nos bons e alegres invernos. Correntezas impetuosas que invadem quintas de caju, transpõem o paredão de barragem, que já engoliu nadadores afoitos. Mais ali, água rasa, nivelando-se com as beiras adornadas de maiôs e biquinis discretos, em manhãs ora ensolaradas, ora tomadas por cinzentas nuvens. Ladeando - entrincheirando - a urbe, o Longá, irrompendo carnaubais e mufumbais, encharcando as "Pintadas" dos criolis, guabirabas e maçãs de rio, animadas colheitas pela meninada, por gente das redondezas. "Preso a tela do enlevo, suponho dentro d'alma ouvir o langoroso e doce murmurar das águas do Longá" (Mário da Costa Araújo). "A treze de março, lá no Jenipapo, comprou com seu sangue nossa independência" (*). É o mais distante dos rios - légua e meia a leste do centro urbano. O de maior notoriedade, o mais enaltecido. Transbordante nos anos de chuvas copiosas, reduzia-se a um filete espelhado, imóvel, no meio do álveo - um regato, simplesmente - em 1823. Milhares de homens valentes puderam fazer sua travessia sem dificuldade. Sobre o barro endurecido do leito, sobre o mato rasteiro, ressequido pela estiagem, das suas margens, "sangue piauiense correu em ondas" (Abdias Neves) - pavorosa hecatombe na qual tombaram feridos ou mortos centenas de conterrâneos. Sangue vertido pela liberdade, num combate sem igual. "Ali, ao lado do norte, ouviu-se um brado de morte, foram bravos que caíram! foram homens destemidos que lá tombaram feridos às balas de Fidié" (Moisés Eulálio).
"Sinto orgulho de ser um seu filho" (*). Gleba de heróis - do passado, do presente e de sempre, ressaltando o vaqueiro e o lavrador, que fizeram surgir este Estado. 


"Cartão de visita do meu Piauí" (*). O bucolismo inspirado nas fazendas de gado, "onde outrora havia banhos de leite" (H. Dobal). Velhos casarões de antigas histórias. O Açude Grande, o "lago" (na expressão do cronista arrebatado Octacílio Eulálio) urbano, o que é fora do comum. Recanto do multicolorido - indescritível - pôr-do-sol. Reflexos da graciosa natureza sobre sua água calma, ao mesmo tempo cenário e testemunha de espíritos contemplativos e de enamorados: confissões e juras de amor trocadas. No horizonte a sudeste, onde as pinceladas do Criador foram mais vivas, a Serra Azul de Santo Antônio - "urna" (Octacílio Eulálio) que encerra infinidade de mistérios até hoje insondáveis."Dizem que nela vagam os fantasmas de uns padres que em suas entranhas enterraram ouro" (Elmar Carvalho).
"Hospitaleira, majestosa, altaneira" (*). "Ei-lo de flores cercado... Não sei onde outro mais belo... Mimosa flor do sertão... Tudo tem graça e beleza" (Moisés Eulálio). Gente simples. Porém, berço de vultos que engrandeceram - e ainda o fazem - o torrão natal e além de seus limites, e peculiarmente simpática, acolhedora, solidária, crente em Deus e - em sua maioria - devota do Antônio, padroeiro do festivo mês de junho, que reúne todos na catedral e na praça das barracas para o afável e sincero gesto de fraternidade, como única família. Dileta terra, consoante se extrai da declaração: "Ah, como gosto de ti, se é verdade que existe vida após a morte, então quero de novo nascer aqui" (Prof. Assis Lima). Majestosa e altaneira na gloriosa história de seu povo, que, neste agosto, celebra o 249º aniversário de fundação da Vila - uma das sete primeiras do Piauí -, exaltando sua irrefutável tradição.  Salve 8 de Agosto! Brademos viva Campo Maior com o "orgulho dos filhos seus!" (*).


(*) Versos do Hino Municipal (Profª Valmira Napoleão).


Fotos: MuseudoPaulo - Maria Luselene - Elmar Carvalho
Ilustração: João de Deus Netto
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