terça-feira, 28 de abril de 2009

ARTUR SAMPAIO

Em 1928, aconteceu a união de Aurea Déa Portela e Aderson Ribeiro Sampaio. Aderson, aos 32 anos, era viúvo de Nazareth, filha de Zeca Mendes, com quem teve um casal de filhos. Aurea tinha 16 e, após o casamento, passou a cuidar da enteada de 6 anos. O curioso era que nem Aurea, nem Aderson, nem sua finada esposa eram estranhos um para o outro, pois moravam num trecho de 100m do mesmo quarteirão largo da Av. Vicente Pacheco.
Aderson era filho do Cel. Benício e da D. Ana e Aurea, de Eudoro, o já falecido sacristão da igreja de Santo Antônio, e de D. Lelé. Moraram em algumas casas no centro da cidade e somente anos depois adotaram a Fazenda São Joaquim, herança do Coronel, como endereço oficial. Tinham a rotina peculiar de estarem sempre de mudança, conforme o produto agrícola que estivesse em safra: na estiagem, o São Joaquim era perfeito para o gado, pois ficava a meio quilômetro da Praça Bona Primo e nas margens do Rio Surubim; na cheia do rio, o gado tinha de ser levado para a Conceição (perto da ruína do Fripisa, naquela época era longe como o quê). Entre os extremos, tinha as férias no Cadoz (mais afastado, onde se plantava cana e fazia farinha) e a temporada urbana, durante os Festejos, quando alugavam uma casa na Praça.
Em Cima, da esquerda pra direita: Eudoro, Salete, Anísio e Altair. Embaixo: Aurea, Zé Benício, Nazareth e um bebê novo membro do clã.
O casal teve oito filhos, entre 1929 e 1952: Nazareth (em homenagem à primeira esposa de Aderson), Maria do Carmo, Anísio (como o tio), Maria Altair (como a tia), José Benício (como o avô), Salette, Eudoro (como o outro avô) e Maria Aurea (como a mãe).
Por volta dos anos 50, a família fixou endereço na Praça. Morou de aluguel na casa que hoje é de D. Almerinda e também em casas de S. Gustavo, de D. Maria Augusta e de D. Ludy, a qual terminou por comprar e nela morou até o fim.
D. Aurea era submissa como esposa, mas engenhosa o bastante para contornar o gênio do marido. Tinha sua própria renda, costurando, bordando, fazendo croché, vendendo alguns produtos beneficiados da fazenda (a venda de carne e leite era a principal renda da família e cabia a Aderson, que possuía boa clientela em Campo Maior), o que lhe permitia alguma independência, bem disfarçada para não mexer com o ego do marido. Às vezes proibida de ir até à igreja, onde participava do Apostolado da Oração, dava um jeito de despistar o marido e saía escondida. N’outras situações, vigiava da janela a porta do Campo Maior Clube, onde estavam filhos ou netos, para nem lhes abrir demais a guarda, nem deixar que fossem descobertos pelo marido.
Aderson era de poucos sorrisos. Dizem que era bonitão, que tinha uma charmosa cara-de-mau, andava sempre de paletó e gravata, mas no fundo era mesmo um grande teimoso. um gago engraçado! Para deixar de falar com alguém, bastava não ir com a cara. Não alisava sequer genros nem noras (só o Antônio Castelo Branco, seu primo, e o Cordeiro, uma figura unânime), fosse funcionário do Banco do Brasil ou filho do prefeito. É engraçado que, quando achava que não havia ninguém por perto, desmanchava a cara sisuda e fazia gracinhas pros netos.
Também tinha a história de que o “território” dele era impenetrável: só cidadãos muito especiais podiam passar por sua calçada e a diversão da molecada era conseguir esse feito debaixo de suas ventas, quando ele se sentava à tarde para ver o mundo. Tem gente que diz que conseguiu enganá-lo, outros dizem que se divertiam só de fingir que iam subir a calçada pra vê-lo armar o contra-ataque; mas foi a pobre Ana Aldira, forasteira desavisada, que levou mesmo o grande pinote! A lagoa do São Joaquim, quando era balneável, era a porta de acesso para os ladrões de goiaba que ele gostava de perseguir: a alegria maior dos meninos nem era conseguir goiabas, mas ouvi-lo praguejar gaguejando!
Aderson morreu aos 83 anos, meses depois de completar Bodas de Ouro (cerimônia à qual não se deu o trabalho de comparecer). D.Aurea, já com a saúde comprometida, teve mais alguns anos para aproveitar tardiamente sua alforria... mas, alvorocem-se as feministas, ela dizia até sentir saudades dos bodejos e ranhetices dele.

Fotos: Museu do Paulo&Bitorocara+

7 comentários:

Washington Araújo, de Fortaleza disse...

Conheci bem o seu Aderson e sua cara de poucos amigos.
Uma certa ocasião, para surpresa de todos, deu uma bola de presente para a molecada que brincava na Praça Bona Primo.
Acho que ele fazia tipo; construiu a imagem de ranzinza e teve que levar o personagem adiante.

zan disse...

Amaral agora vai ressussitar (é açim mermo que se inscreve isso???) de novo a estória do qui qui qui pega o maior pra cima de mim...

Artur disse...

Só sei que a torre do Rosário caiu, um pedaço da casa dele qui-qui-qui-caiu também e ele só notou no outro dia.
O bebê no colo da Nasareth é a Maria Aurea, afilhada dela. A mais velha, o marido e a irmã caçula.

zan disse...

Simpaticíssimo o perfil do sogro do pai que não queria que ele casasse com a filha, feito pelo filho deste e neto daquele. Civilidade é isso aí... O mundo consegue duramente melhorar, gerações após geração... as que vêm depois conseguem ser melhores ou menos ruins que as anteriores, por mais que isso não pareça. Os que vieram antes, onde estiverem, se regozijam com isso. Para os que estamos aqui, é seguir o exemplo.

M Aurea disse...

Na foto está faltando Maria do Carmo, a segunda filha.

Neville Paz disse...

Aderson Sampaio foi uma figura que marcou época em Campo Maior. Muito austero porém, direito e batalhador
Eu tive o privilégio de privar de sua simpatia, pois fui seu freguês de leite, com uma convivência tri cordial.Também como cliente do BB, ele sempre me procurava quando não encontrava o "Gaspar" (tratamento que dava ao Adilson Andrade) o seu funcionário preferido. O meu cordial abraço aos seus descendentes, os quais considero como meus primos (nossas avós eram irmãs). Neville Paz

ari cordeiro disse...

meu pai trabalhou na casa de seu aderson dos 7 aos 17 anos,me conta historias do dia dia daquela casa,como o leite que ele vendia ,o qual ele só podia entregar depois que seu aderson saia para o bar do antonio músico,o dinheiro desta venda era entregue a d. aurea.

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