Zé Miranda Filho
Pois digo, João, que o seu Zé de Deus é homem de bom gosto musical. Rapaz, os dobrados são peças lindas, emocionantes; muitos produzem em mim arrepios e lágrimas. No entanto, seus apreciadores são vítimas de zombaria, considerados antiquados, cafonas. Olhe um exemplo. Meu primo Lulinha Miranda possuía uns LPs desse gênero. Mas, quando os ouvia, as filhas lhe recomendavam que abaixasse o som, por causa dos vizinhos (?!). Ele se chateava, mas... Já, quanto a mim, faço questão de que todo mundo escute. Podem mangar, à vontade, dos meus gostos.
Pois pois, ZAN, ainda se lembrando dos sucos de cajás preparados pelas tias! E dos pés de umbu, manga, pitomba, daquele fruto grande, amarronzado, cujo nome não recordo neste momento, e do qual fazíamos boizinhos e vaquinhas? E do chouriço delicioso? E da coalhada, que não era servida em copo, mas em prato, aquele compacto grande, semelhante a queijo e comido com farinha ou açúcar? Os doces diversos, especialmente, o de leite? Ah, os tios Sinhozinho Miranda e Antonino Costa Araújo, além do primo Afonso Miranda, realizando verdadeiros “clássicos” no complicado jogo de gamão! E por aí vão as lembranças. A radiola (é a nova! como tudo aqui contado) da Zezé e da Zuzu troava os boleros e outros ritmos da época. As moças falavam das festas e dos namoros, mais das outras jovens da cidade que mesmo dos delas. E os rapazes, entre si, das presepadas. Meu pai, irmãos e sobrinhos adultos, das ocorrências políticas. As tias se esmeravam na comilança, nos bilros, nos cuidados com os filhos (as casadas) e os sobrinhos (as solteiras), quase sempre privilegiando os mais queridos. As meninas metiam-se nas brincadeiras próprias do sexo e da idade. Os meninos, quando não jogávamos peladas, íamos caçar o que mais fazer na campina imensa.
Pois digo, Zé Miranda, que o antigo e complicado jogo de Gamão já se encontra disponível para os modernos computadores dos nosso filhos, netos, tataranetos, escanchanetos...
SAIBA TUDO sobre como jogar Gamão na internet, neste site aqui, ó:
http://www.gamao-expert.com/gamao-online.htm
17 comentários:
Zé, todo sábado as 19h na rádio Verde Oliva do Exército, tem um programa só de dobrado e eu adoro ouvir, me dá uma saudade tão grande da minha infância, meu pai adorava ouvir dobrado e acho que "peguei" este gosto dele.
Um abraço
Lúcia Araújo
Sábado sai aqui, Zemiranda, na rua ao lado aqui de onde moro e onde fica o quartel od exército... saí caminhando e fui e fui e lá muito adiante me deparei com uma casa dentro de um cercado, muito parecida com o casarão da fazenda São Luis. Cheguei perto e vi que se tratava da sede do Parque de Exposição, próximo à antiga fazenda Rocio, onde nasceu Chico Pereria da Silva e hoje é a sede da Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos de Campo Maior... Nesse fim de semana que vem vou convocar meu amigo professor Augusto Pereira Filho, pra gente desencavar o que restou daqueles sítios onde a gente batia um "balãozinho" e quando cansava tomava aquele suco maravilhoso daquele pé de umbu-cajá que ficava ao lado do casarão... e vê se dá pra se tirar foto do que teria restado daquilo... quando eu me deparo com algo que não me lembra em nada um sítio em que vivi momentos inesquecíveis de minha infância e adolescência por aqui, baixo a cabeça e sigo em frente, me lembrando do que o grande Drumond dizia do fato de nunca querer voltar a sua Itabira mítica que só existia na lembrança dele... dói na alma, meu amigo, ver a descaracterização ali daquele trecho do centro entre a casas em que nós moramos, da praçinha da tua casa pra rua Senador José Euzébio onde eu morei...
...vê que eu digo ali no comentário anterior é "ver" mesmo...
A música tem o condão de nos transportar no tempo, e ouvir esse dobrado me fez recordar os bons momentos vividos em Campo Maior.
O dobrado me transporta ao casarão o saudoso Ovídio Bona. O "capitão" gostava de ouvir a todo volume e a gente ouvir a
quilômetros de distância. Que saudade. Obrigado Sr. José Miranda!
Ana Lúcia, fico sabendo agora que muitas pessoas, as quais reconheço como de bom gosto musical, apreciam “dobrados” - você, Seu Chico Araújo, Seu Zé de Deus, Washington Araújo, Valdenir. Lúcia, por você citar o programa que uma emissora radiofônica de Brasília apresenta, eu me recordo agora que a Rádio Antares, de propriedade estadual, tinha um programa idêntico, nas manhãs de domingo, que eu ouvi muitas vezes. Conforme disse, “tinha”; o programa deixou de existir, para minha frustração.
João, essa capa de Long Play contendo dobrados e marchas militares é a mais conhecida. O Lulinha Miranda tinha essa, de um dos discos do gênero que me foram emprestados por ele. Fiz a gravação em fitas cassete. Mas hoje tenho mp3 gravado mediante pesquisas na internet. São muitos dobrados, marchas, hinos e canções militares. O dobrado que você postou aqui é o “Comandante Batista de Melo”, da autoria de Jorge Pinheiro. Você sabia? A versão em meu poder é executada pela Banda da Base Aérea de Brasília. O aludido dobrado é um dos mais belos, como também, talvez, o mais tocado nos festejos de Santo Antônio. A propósito disto, eu me lembro de que, num distante 31 de maio, quando a cidade se preparava para a procissão da bandeira, uma amplificadora, cujo proprietário esqueci, tocava dobrados. Então, umas pessoas do MDB - Celso Barros Coelho, Carlos Lobo e outros não lembrados por mim, mas certamente que sim pelo ZAN, que era anfitrião delas, que estava criando o partido em Campo Maior, comentaram ironicamente como se executava música militar (por coincidência, vivíamos nos tempos da ditadura) em festa de santo.
Ouvi demais a banda do Major Honório/Antônio Músico, porque ela ensaiava num salão próximo de minha casa, parede-meia com a residência do Seu Raimundo Fenelon. Não sei como essa família tinha sossego, com tamanha aproximação do barulho musical; exceção para o Mudinho (surdo-mudo), membro da família... Da minha parte, só não gostava dos ensaios para a Semana Santa, em virtude da Marcha Fúnebre, de Chopin, que era executada na procissão do Senhor Morto. Sua profunda tristeza melódica me impressionava.
Valdenir, você conta que escutava dobrados no casarão do Capitão Ovídio Bona. É seu descendente, amigo ou vizinho? Agradeço seu gentil agradecimento.
João, o que te falta postar neste blog? Gamão eletrônico! Rapaz, no tabuleiro já é muitíssimo complicado! O que se dizer das dificuldades por via computadorizada? Será que vou acertar? Tentarei, mas acho que não.
Sr. José Miranda,
Eramos vizinhos. Meus pais, Expedito Mariano e Dona Inês, moram na Rua Senador José Euzébio e o Capitão Ovídio morava no final da Av. José Paulino na mesma altura. Um grande abraço.
Só vou dizer que pensava que já tinha visto tudo, quando eu for desafiado pelos meus netos para uma partida de "triângulo" na areia molhada pela chuva, feito com raio de calha de bicicleta, bem afiadinha! Transfiro o desafio para os netos de vocês, porque por aqui é impossível que alguém saiba da existência desse fruto da imaginação inigualável de um nordestino.
José Miranda, também gosto de "viajar" ouvindo "dobrados". Durante os primeiros anos da minha infância, morei naquela casa grande, ainda existente, vizinha à residência de D. Anita, e ao lado do Novo Hotel, do "seu" Miguelzinho e D.Celestina. Existia uma casa, vizinha à nossa, que durante algum tempo, serviu de depósito para os instrumentos, onde às vezes, os músicos realizavam os ensaios da banda de música. Foi nessa época, que comecei a apreciar os dobrados. Talvez você lembre dos meus pais: Edmundo Reis e Luzia. Anos depois, fomos morar vizinhos à casa do Capitão Ovídio Bona, que, como já relatou o grande amigo, Valdenir, costumava nos brindar com a melodia de belos dobrados, que ele ouvia no volume máximo. Bons tempos.
José.
Terei que dispor de um tempo para escrever alguma coisa. Do que eu penso você já sabe. O que escreve é simplesmente maravilhoso, é como também digo pro Neto, Zam etc...
Para nós campomaiorenses esse resgate das recordações a memória do nosso passado, que pelo menos eu, parecia haver apagado. As lembranças dos nossos entes queridos, se tornam desde então, uma chama ardente de Paixões.
Repito sempre, muito obrigada por tudo, e, por favor continuem a escrever.
Netto dou sempre maior foça.
Saudade.
José.
Será o fruto, jatobá, jenipapo?
Beijos.
Digo força,força.
Beijos.
Caro Ricardo Reis, meu pedido de desculpas por ainda não ter feito referência às suas palavras, com data de 1/11/2010. Na forma como tenho me justificado, estou sem CPU em casa, o que me dificulta acompanhar todas as opções de meu interesse na internet. Você se apresentou, então, como mais um apreciador de “dobrados”, integrando a lista de “cafonas”, “sem gosto”, “arcaicos”, “militarizados” etc., etc. Claro que me lembro dos seus pais, Seu Edmundo/D. Luzia. Acho que recordo, também, a casa onde você morou, na viela que parte da Praça Gentil Alves (do teatro), passa pela José Miranda e desemboca na Ruy Barbosa. Puxa, esqueci o nome dela! Sua localização, como você descreve, fica perto da casa do Seu Antônio Andrade e do Novo Hotel, do Seu Miguelim. Ainda acrescento como tendo os fundos ligados com os de casas de frente para a Av. Vicente Pacheco – sede da ANCAR e residências de pessoas da minha família: tios Sinhozinho/Zelinda e primos Rita/Herbert (anteriormente ocupada pelo Miguel Brito). Salvo engano, além de haver servido à banda de música, foi também sede do Comercial Atlético Clube. Aproveito este espaço com o fim de parabenizar você pelo bonito poema em homenagem a seu pai, por ocasião de sua partida.
Como pensei, caro Valdenir, foi vizinho do Capitão Ovídio Bona, quem, como mencionou o Ricardo Reis, gostava de estourar os próprios ouvidos e os dos vizinhos, igualzinho a mim, sem a preocupação de ser considerado isto, isso e aquilo. Apesar de meu cérebro já estar começando a esquecer, os nomes de seus pais, Seu Expedito Mariano e Dona Inês, principalmente o dele, não me são estranhos. Espero sua compreensão e desculpa pela minha demora na referência a sua gentil resposta.
Um grande abraço.
João de Deus, um conterrâneo do seu genro – jornalista Donizete Adauto, que fez grande sucesso no Piauí –, pouco antes de ser assassinado aqui, afirmava, criticando a classe política e suas “maracutaias” (expressão muito usada por ele: “Morro e não vejo tudo”. Cuidado, que o amigo pode estar se agourando, ao ter dito: “Só vou dizer que pensava que já tinha visto tudo, quando eu for desafiado pelos meus netos para uma partida de ‘triângulo’”. O outro, nesta encarnação, jamais veria tudo o que não presta na prática dos carreiristas acima citados. Você não terá a menor chance de receber tal desafio, nesta e, mais dificilmente, nas próximas vindas. Quem disse que pelas imaginações dos nordestinos do presente passam esses frutos singelos dos nordestinos do passado? Rapaz, deixe dessa ilusão! Os meninos d’agora, até no Nordeste, não nos desafiam mais nem para uma partida de botão, que era um pouco mais civilizado e querido. Quanta saudade dos meus campeonatos, com o Icade, Decinho Bastos e Man(o)el Veras, e que, até pouco tempo, eu promovia com um grupo de amigos botonistas! Mas será que tal artigo (time de botão) ainda pode ser encontrado nas prateleiras das lojas?! Moço, hoje é só um tal de video game, jogos eletrônicos os mais diversos...
Gracinha, Gracinha:o João de Deus já lhe tinha informado, e eu faço o mesmo no palavreado um pouco mais acima, me dirigindo ao Ricardo Reis, em relação a minhas dificuldades com a internet. Mesmo assim, peço mil perdões a você pelas faltas das minhas respostas às suas sempre bem-vindas palavras a mim. Você chega a cometer excessos quando repete que sou “maravilhoso” ao escrever. Sua atenção comigo me comove muito, me conduzindo de volta à nossa adolescência, ao convívio que tivemos e que, sem dúvida está decretado, jamais esquecerei, nem – Deus me livre! – se for alcançado pelo terrível Mal de Alzheimer. É justo e necessário enaltecer o indizível bem que o João fez a Campo Maior e a sua gente, mediante a criação do Bitorocara em suas várias fases: simplesmente Bitorocara, Bitorocara News, Bitorocara.blogspot. Você, com plena propriedade e sinceramente, expressa: “Para nós campomaiorenses esse resgate das recordações, a memória do nosso passado, que, pelo menos eu, parecia haver apagado. As lembranças dos nossos entes queridos, se tornam desde então, uma chama ardente de Paixões”. O que concluo disso? O papel do Bitorocara está mais do que ressaltado. Uma pequena mágoa no peito, mas que posso compreender, acerca do seu aparente esquecimento daquele passado e do qual suponho ter feito parte, ou não? Oh, que dor! Fez-se necessária a criação deste blog para voltarmos – nós outros – à sua memória e, quem sabe, ao seu coração. Apesar disso, confio em que eu possa estar entre os “entes queridos” aos quais você se refere...
Não me agradeça nada, faço o de que gosto. Mais uma coisinha: você terminou indagando: “Será o fruto, jatobá, jenipapo?” Não entendi direito. Porém, quanto ao jatobá, você me fez recordar o pé de jenipapo de minha casa. Frutinha rejeitada, até, por motivo do gosto desagradável; ficavam espalhadas no chão, abandonadas. Talvez você tenha esquecido o desprezado jenipapeiro do meu quintal.
Pode ter certeza da minha imensa saudade.
Beijos.
Amigo José Miranda, obrigado pela gentileza, da referência ao comentário feito anteriormente. Recordo de você, da sua família,e dos belos anos vividos naquela casa, nos primeiros anos da minha vida. É maravilhoso termos esse espaço, onde podemos conversar e recordar de uma Campo Maior, que, felizmente, ainda existe em nossas lembranças. Que Deus ilumine os nossos caminhos, e que estes possam convergir, sempre, para a nossa bela e querida cidade.
Abraços.
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