por Joaquim Pereira
Encontramo-nos, eu e o
Manoel Bezerra da Silva, conhecido por Manoelzinho, ainda quase meninos, ou
meninos mesmo, eu menino do mato, estudante em Teresina, ele menino da cidade,
dirigindo o caminhão do pai, Luiz Bezerra, lá por aqueles matos.
Depois, já bancário em Campo Maior, reencontrei-o ali, dono de "jipe de praça". E
formamos um trio quase inseparável, eu, ele e o Polidório, todos ainda
solteiros. Toda noite, lá estávamos nós na praça Rui Barbosa, a praça do
passeio, ou no Campo Maior Clube. Ou no bar do Mestre, jogando sinuca,
apostando cervejas.
Mais tarde, quando assumi o cargo de Fiscal do Banco do Brasil, era ele o meu
motorista. No seu jipe quatro portas varamos aquele pedaço do Piauí de ponta a
ponta, não sei quantas vezes, da estrema com o Maranhão até a estrema com o
Ceará. Então sofrendo de úrcela estomacal, mas muito precisado do aluguel
garantido do jipe, submeteu-se àquela dura lida, de alimentação incerta e não
escolhida, que vida de fiscal do Banco, naqueles tempos, não permitia regime
alimentar. Alimentava-se quase somente de biscoito água-e-sal. E, dia após dia,
emagrecendo rápido. Já só tinha quase mesmo o couro e o osso. Preocupado,
olhava-o e via-lhe, bem demarcados, todos os ossos do rosto. Por causa disso,
dispensei-o de andar comigo e aluguei outro jipe. Quando lhe fiz a comunicação,
que não precisava mais do seu jipe, ele não a entendeu e zangou-se, querendo
saber o motivo de tal atitude minha, se ele tinha cometido alguma falha, se sua
companhia já não me agradava. Expliquei-lhe que sua saúde não lhe permitia
aquele tipo de trabalho, vivendo pelos matos, sem conforto, vida de cigano.
Saiu entufado, certamente sem perceber que a minha intenção era ajudá-lo a
recuperar-se. Pouco tempo depois, alegrava-me vê-lo com a fisionomia melhorada,
reencorpando-se, porque vivendo em casa com sua esposa, tendo repouso e
alimentação adequados.
Mudei-me para Brasília e lá ficou ele, vivendo do aluguel de seu jipe quatro
portas. Na primeira vez em que retornei a Campo Maior, anos depois, de férias,
encontrei-o gordo e corado, funcionário da Prefeitura e empresário, dono do
RESTAURANTE MANOELZINHO, especialista em carne-de-sol com baião de dois e
paçoca. E me recebeu como se recebe amigo, porque sua zanga durou pouco.
Mas morreu sem quê nem pra quê. Ele, que cresceu agarrado a volantes de tudo
quanto era tipo de carro, logo ele espatifou seu carro em acidente na estrada
Campo Maior/Teresina. E morreu.
Morreu mas deixou o nome no restaurante Manoelzinho, hoje talvez conhecido em
todo o Brasil. Nome espalhado pelos turistas que ali já pararam para almoçar ou
jantar uma das melhores carnes-de-sol de Campo Maior. Quem sabe, uma das
melhores carnes-de-sol do Nordeste.
5 comentários:
Boas lembranças,quando lá em casa, mandavam buscar um carro na praça,a preferência que eu dava era para Manoelsinho, depois que ele deixou a lida, o Chico Lima era meu escolhido.
Tenho grande lembraça deste meu primo,filho de uma irmã do meu pai tia Teresa.Ele era uma pessoa de boa ídole, um cara amigo como resaltou o Joaquim Pereira.Tinha um respeito bem grande pelo meu saldoso pai João dos Couros.Por isso eu só tenha a gradecer ao Joaquim Pereira por esta singela lembraça a Monelzinho.
Rapaz, parece que o Bitorocara parou mesmo! Vamos fazer alguma coisa pela manutenção dele. Vamos reanimar o João de Deus nessa batalha. Campo Maior, embora tenha outros blogs excelentes, não pode perder este. É mais um na divulgação da terra-mãe.
mas antes do manoelzinho,não podemos esquecer do seu João da Cruz que também difundiu o uso da carne de sol e da paçoca para muitas pessoas de Campo Maior e de outros lugares.
Foi com grata surpresa que hoje, 16-03-2013, dei de cara, nesse blog do campomaiorense João de Deus Netto, com um texto meu extraído do meu livro "Estrelas no Chão - Memórias". Vamos preservar a memória de Campo Maior, como faz o João de Deus.
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