quinta-feira, 31 de maio de 2012

MANOELZINHO - "Jipe de Praça"



por Joaquim Pereira

Encontramo-nos, eu e o Manoel Bezerra da Silva, conhecido por Manoelzinho, ainda quase meninos, ou meninos mesmo, eu menino do mato, estudante em Teresina, ele menino da cidade, dirigindo o caminhão do pai, Luiz Bezerra, lá por aqueles matos.
     Depois, já bancário em Campo Maior, reencontrei-o ali, dono de "jipe de praça". E formamos um trio quase inseparável, eu, ele e o Polidório, todos ainda solteiros. Toda noite, lá estávamos nós na praça Rui Barbosa, a praça do passeio, ou no Campo Maior Clube. Ou no bar do Mestre, jogando sinuca, apostando cervejas.
     Mais tarde, quando assumi o cargo de Fiscal do Banco do Brasil, era ele o meu motorista. No seu jipe quatro portas varamos aquele pedaço do Piauí de ponta a ponta, não sei quantas vezes, da estrema com o Maranhão até a estrema com o Ceará. Então sofrendo de úrcela estomacal, mas muito precisado do aluguel garantido do jipe, submeteu-se àquela dura lida, de alimentação incerta e não escolhida, que vida de fiscal do Banco, naqueles tempos, não permitia regime alimentar. Alimentava-se quase somente de biscoito água-e-sal. E, dia após dia, emagrecendo rápido. Já só tinha quase mesmo o couro e o osso. Preocupado, olhava-o e via-lhe, bem demarcados, todos os ossos do rosto. Por causa disso, dispensei-o de andar comigo e aluguei outro jipe. Quando lhe fiz a comunicação, que não precisava mais do seu jipe, ele não a entendeu e zangou-se, querendo saber o motivo de tal atitude minha, se ele tinha cometido alguma falha, se sua companhia já não me agradava. Expliquei-lhe que sua saúde não lhe permitia aquele tipo de trabalho, vivendo pelos matos, sem conforto, vida de cigano. Saiu entufado, certamente sem perceber que a minha intenção era ajudá-lo a recuperar-se. Pouco tempo depois, alegrava-me vê-lo com a fisionomia melhorada, reencorpando-se, porque vivendo em casa com sua esposa, tendo repouso e alimentação adequados.
     Mudei-me para Brasília e lá ficou ele, vivendo do aluguel de seu jipe quatro portas. Na primeira vez em que retornei a Campo Maior, anos depois, de férias, encontrei-o gordo e corado, funcionário da Prefeitura e empresário, dono do RESTAURANTE MANOELZINHO, especialista em carne-de-sol com baião de dois e paçoca. E me recebeu como se recebe amigo, porque sua zanga durou pouco.
     Mas morreu sem quê nem pra quê. Ele, que cresceu agarrado a volantes de tudo quanto era tipo de carro, logo ele espatifou seu carro em acidente na estrada Campo Maior/Teresina. E morreu.
     Morreu mas deixou o nome no restaurante Manoelzinho, hoje talvez conhecido em todo o Brasil. Nome espalhado pelos turistas que ali já pararam para almoçar ou jantar uma das melhores carnes-de-sol de Campo Maior. Quem sabe, uma das melhores carnes-de-sol do Nordeste.

5 comentários:

Simão Pedro disse...

Boas lembranças,quando lá em casa, mandavam buscar um carro na praça,a preferência que eu dava era para Manoelsinho, depois que ele deixou a lida, o Chico Lima era meu escolhido.

Nonatinho disse...

Tenho grande lembraça deste meu primo,filho de uma irmã do meu pai tia Teresa.Ele era uma pessoa de boa ídole, um cara amigo como resaltou o Joaquim Pereira.Tinha um respeito bem grande pelo meu saldoso pai João dos Couros.Por isso eu só tenha a gradecer ao Joaquim Pereira por esta singela lembraça a Monelzinho.

José Miranda Filho disse...

Rapaz, parece que o Bitorocara parou mesmo! Vamos fazer alguma coisa pela manutenção dele. Vamos reanimar o João de Deus nessa batalha. Campo Maior, embora tenha outros blogs excelentes, não pode perder este. É mais um na divulgação da terra-mãe.

Maria Luiza disse...

mas antes do manoelzinho,não podemos esquecer do seu João da Cruz que também difundiu o uso da carne de sol e da paçoca para muitas pessoas de Campo Maior e de outros lugares.

Joaquim Pereira disse...

Foi com grata surpresa que hoje, 16-03-2013, dei de cara, nesse blog do campomaiorense João de Deus Netto, com um texto meu extraído do meu livro "Estrelas no Chão - Memórias". Vamos preservar a memória de Campo Maior, como faz o João de Deus.

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