“Muitas pessoas me tem feito perguntas sobre em que ano e por quem teria sido construído o açude de Campo Maior. Resolvi escrever estas notas, e entrega-las ao jornal do Totó (Ribeiro), A Luta, pedindo sua divulgação”.
Marion Saraiva
Até o ano de 1832 só havia uma aguada em Campo Maior – era a Lagoa. Havia grande cuidado na conservação das águas. No terceiro trimestre desse ano de 1832, Benedita Maria pagou 4$000 (quatro réis) de multa por lançar coisas na “Lagoa, única aguada da vila”. E, “com o que se dispendeu com pólvora para matança de porcos que arruinavam as águas da Lagoa em tempo de verão, 4$000” (Receita e Despesa de 1806. Em 1859 já havia o Açude Grande, e um projeto para fazer-se outro no “riachinho da água quente”. Em 22 de dezembro de 1858, na administração do Dr. João José de oliveira Junqueira, 13º presidente da Província, o Cel. Comandante superior Jacob Manoel de Almendra arrematara sua construção devendo dá-lo em junho de 1860, percebendo pelo serviço a quantia de 3:5000$000 (três mil e quinhentos contos de réis), pagos depois que a obra tivesse resistido a um inverno. “Posteriormente, o serviço foi feito pelo Cel. Antonio José Nunes Bona, com o auxílio da verba de 6:000$000, concedida pelo último ministério da monarquia”.
No ano de 1920, um engenheiro belga, Dr. Horta, fez consertos no paredão, por onde logo depois de ter sido construído, “ninguém deveria passar”...(?) Hoje em dia fala-se muito mal da água do velho açude. Também, por que deixaram de cuidar de sua conservação? Dantes as posturas municipais ocupavam-se de que elas não fossem contaminadas. Senão vejam: “...pediu a palavra o vereador José Firmiano da Costa e disse que a bem do interesse público requeria a esta Câmara que mandasse uma comissão criada para fazer as demarcações precisas a bem do interesse do público. Outrossim, que também não se conceda ditos terrenos para fazer-se currais de criação de gado vacum (boi), cavalar, ovelhum e cabrum mistos aos terrenos mencionados quer do lado de aquém, quer do lado de além do dito açude para não prejudicar a limpeza da aguada.
Em 1913, o poeta e médico Alcides Freitas, que aqui estava em busca de melhoras para o mal que acabou por levá-lo, numa noite escura e fria de inverno, a dormir o último sono no velho cemitério de Campo Maior, nos deixou este belíssimo soneto de condenação das águas do açude:
Preso, tranqüilo, o açude é um lençol de água morta
Que o céu lançou à terra à feição de um apôdo,
E que o pêso do tempo impassível suporta
Sem um crespo de raiva a assombrar-lhe o denodo...
Aos rubros tons do sol que às nuvens o transporta
Veste contas de prata e se ilumina todo
E lembra pelo inverno uma grande retorta
Onde Flora capricha a pelúcia do lodo...
Nele a febre campeia e ferve cultivando
Os germes do sepulcro, as larvas da saudade,
Ao grave rococó dos sapos vozeirando...
Certo ninguém lhes sabe as tristezas secretas!
A alma branca do açude, isenta de maldade,
Tem o mistério azul das almas dos poetas!...
Campo Maior, 1913 - Alcides Freitas
Matéria publicada no jornal A Luta, de 07/04/1968.
Fotos: Marion Saraiva, Totó Ribeiro e Alcides Freitas -
Marion Saraiva
Até o ano de 1832 só havia uma aguada em Campo Maior – era a Lagoa. Havia grande cuidado na conservação das águas. No terceiro trimestre desse ano de 1832, Benedita Maria pagou 4$000 (quatro réis) de multa por lançar coisas na “Lagoa, única aguada da vila”. E, “com o que se dispendeu com pólvora para matança de porcos que arruinavam as águas da Lagoa em tempo de verão, 4$000” (Receita e Despesa de 1806. Em 1859 já havia o Açude Grande, e um projeto para fazer-se outro no “riachinho da água quente”. Em 22 de dezembro de 1858, na administração do Dr. João José de oliveira Junqueira, 13º presidente da Província, o Cel. Comandante superior Jacob Manoel de Almendra arrematara sua construção devendo dá-lo em junho de 1860, percebendo pelo serviço a quantia de 3:5000$000 (três mil e quinhentos contos de réis), pagos depois que a obra tivesse resistido a um inverno. “Posteriormente, o serviço foi feito pelo Cel. Antonio José Nunes Bona, com o auxílio da verba de 6:000$000, concedida pelo último ministério da monarquia”.
No ano de 1920, um engenheiro belga, Dr. Horta, fez consertos no paredão, por onde logo depois de ter sido construído, “ninguém deveria passar”...(?) Hoje em dia fala-se muito mal da água do velho açude. Também, por que deixaram de cuidar de sua conservação? Dantes as posturas municipais ocupavam-se de que elas não fossem contaminadas. Senão vejam: “...pediu a palavra o vereador José Firmiano da Costa e disse que a bem do interesse público requeria a esta Câmara que mandasse uma comissão criada para fazer as demarcações precisas a bem do interesse do público. Outrossim, que também não se conceda ditos terrenos para fazer-se currais de criação de gado vacum (boi), cavalar, ovelhum e cabrum mistos aos terrenos mencionados quer do lado de aquém, quer do lado de além do dito açude para não prejudicar a limpeza da aguada.
Em 1913, o poeta e médico Alcides Freitas, que aqui estava em busca de melhoras para o mal que acabou por levá-lo, numa noite escura e fria de inverno, a dormir o último sono no velho cemitério de Campo Maior, nos deixou este belíssimo soneto de condenação das águas do açude:
Preso, tranqüilo, o açude é um lençol de água morta
Que o céu lançou à terra à feição de um apôdo,
E que o pêso do tempo impassível suporta
Sem um crespo de raiva a assombrar-lhe o denodo...
Aos rubros tons do sol que às nuvens o transporta
Veste contas de prata e se ilumina todo
E lembra pelo inverno uma grande retorta
Onde Flora capricha a pelúcia do lodo...
Nele a febre campeia e ferve cultivando
Os germes do sepulcro, as larvas da saudade,
Ao grave rococó dos sapos vozeirando...
Certo ninguém lhes sabe as tristezas secretas!
A alma branca do açude, isenta de maldade,
Tem o mistério azul das almas dos poetas!...
Campo Maior, 1913 - Alcides Freitas
Matéria publicada no jornal A Luta, de 07/04/1968.
Fotos: Marion Saraiva, Totó Ribeiro e Alcides Freitas -
Museu do Paulo&Bitorocara+
2 comentários:
Tem horas que eu penso que a maioria dos leitores deste blog acha que eu invento coisas e eu fico até com algum receio de falar de pessoas que são objetos de matéria. Alguém deve pensar assim:"esse maluco desse zan não tem o que fazer...e fica inventando que Puaca é um grande pensador e que não sei quem fez não sei o quê não sei quando...quem é que se lembra lá disso?" Meu pai, que era também um grande pensador, daí eu ter herdado essa veia filosófica que perpassam meus comentários (tou falando sério...), dizia uma coisa que eu ouvi também do nosso grande irmão Turuka:"O que se leva da vida é a vida que se leva". Aparentemente não quer dizer nada, mas analisando bem é de uma profundidade abissal.A vida que eu vivo aqui é o que eu levarei dessa vida pra outra, ou seja minhas lembranças, o que eu fui e fiz. Eu e meus companheiros de jornada, pessoas de alguma forma ligadas a Campo Maior. Mas esse preâmbulo todo é pra falar de Da. Marion Saraiva. Vou repetir o que falei num comentário que fiz sobre uma matéria com ela,que está num arquivo aí do Blog. Conheci Da. Marion nos seus últimos anos de vida. Trabalhei com ela na Prefeitura entre 67 e 68, por aí. No fim da tarde, depois do expediente, parava às vezes prum dedo de prosa em sua casinha ali ao lada da casa de Da. Briolanja. Oliveira. Entre um cafézinho e um bolinho ou um docinho, conversávamos sobre tudo e nada. Ela tinha especial afeição por mim. Tinha sido grande amiga da minha mãe, que visitava de vez em quando em nossa casa da rua Sen. José Euzébio. E me achava muito inteligente, como todo mundo (vou morrer assim, mas não passo disso, graças ao bom Deus...) Finalizo o este comentário dizendo o seguinte:Da. Marion deixou um acervo enorme de escritos que seus familiares devem ter guardados com muito carinho, mas daqui faço um apelo:publiquem esse material. O que ela publicou em vida no jornal A Luta do Totó, como essa matéria sobre o açude, não é nada em face do que ela escreveu sobre a história de Campo Maior. Lanço daqui o desafio:publiquem esse material, repito. Juntem as forças aí, familiares, prefeitura, Academia, mas façam isso...Em nome da cultura e da história de nossa cidade. Voltando ao meu pai, lembro um passagem dele que alguém aí deve se lembrar:chegava alguém na loja e vendo ele com a expressão preocupada, dizia:"Tá tudo bem, seu Oscar?". Ele respondia:"Tá tudo muito bem, dizia uma velha se afogando..." Essa passagem é a cara do meu pai... Um grande pensador e humorista, como eu.
As pessoas que eu identifiquei,
foram: em pé José Neiva, Hiolanda professora de educação física, irmã
do Luís Pesão, Socorro filha da d. Mirozinha, Maria Alzíria irmã do dr. Domingos José, a próxima não identifiquei, Lula Macêdo, professor de matemática, entre a Hiolanda e Socorro, Hernane Napoleão, entre Socorro e a Maria Alzíria, Capita filho do dr. Raimundo Marques, chefe dos correios, entre a Maria Alzíria e a não identificada por mim Antônio Wilson Bona, agachadas da esquerda
para a direita a 1ª não identifiquei , Gracinha Torre, Fátima Mousinho e Amparo do Turuca.
Creio que fiz uma boa identificação.
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