terça-feira, 19 de maio de 2009

IRMÃO TURUKA

RECORDAR É VIVER
Detive-me outro dia a olhar os canteiros multiformes de variedades matizes, com que o atual Prefeito se esmera em mostrar aos visitantes a mais bela praça do Piauí, a Bona Primo [Jornal A Luta, 25/08/1968].
Lembrei minhas palestras com o Alferes Sinfrônio Olímpio do Monte, acerca do lendário Pelourinho , grosso tronco de madeira fincado bem no centro da praça, para vingar os “Brancos” das desobediências praticadas pelos “Pretos Escravizados”. Foram tantas as injustiças ali praticadas, que um dia as Forças da Natureza se revoltaram e despedaçaram-no com um monstruoso corisco (raio). Alguém tentou acalmar a fúria do céu, mandou construir uma pirâmide, com 4 degraus, onde os meninos brincavam. Teve a mesma sorte do Pelourinho, porque outro corisco a destruiu.
Em 1912 ou 13, o Mestre Paiva veio com uma Comissão de Engenheiros das Obras Contra a Seca escolher locais apropriados para três poços tubulares e sobre eles, três cata-ventos com caixa dágua metálica, para Campo Maior. Tentaram cavar um dos poços no exato local do Pelourinho, mas a broca enganchou de tal modo que tiveram de mudar para mais adiante do triste local regado com sangue africano. Mestre Paiva também deu azar. No mesmo ano matou seu amigo Cazuza Rego, por trás da Matriz (de Santo Antônio), depois de juntos haverem bebido uma pinga da Cana Limeira, na quitanda do Zeca Mendes.
Na velha Praça tinha de tudo: Grandes Casas de Comércio onde a filosofia dos donos era de que ”se conhece o pau é pela casca que o veste”, por isso ninguém relaxava a elegância. Tinha a Intendência, Fórum, Delegacia de Polícia e Cadeia muito perto, Juiz, Advogado, Farmácia perto, açougue, pelada, três-setes, gamão e, sobretudo, brincadeiras de prendas e danças de rodas, onde os pequenos , moças e rapazes se divertiam e os mais idosos conversavam nas “bocas da noite”
.
Irmão Turuka (Antônio Andrade Filho). Comerciante (Farmácia), espírita, contista, memorialista, cronista, contador de “causos” e jornalista. Nasceu e faleceu em Campo Maior (*26/01/1924, +28/06/1970).

3 comentários:

Maria José Carvalho Coelho disse...

Saudoso irmão Turuka, que Deus o tenha! Mesmo na grã dimensão continua contribuindo através de seus familiares para a reconstrução de nosso memorial por parte do Bitorocara News. Parabéns à família do nobre irmão e ao ilustre João Neto por nos proporcionar relatos nunca dantes sabido por mim e talvez por tantos outros campomaiorenses.

Washington Araújo, de Fortaleza disse...

O BITOROCARA é entretenimento e cultura. Não conhecia a história do pelourinho no centro da praça Bona Primo, nem dos tais poços artesianos.
O texto do Turuca é primoroso

zan disse...

Hoje de manhã tive uma conversa com o Francisco Junior pelo Msn, em que ele me fala dum lamentável caso de discriminação racial que sofre uma mulher de cor muito conhecida na cidade, formada em Pedagogia, mãe de três filhas, cozinheira de mão cheia, que se chama Idalina. Me lembrei na hora da matéria do Irmão Turuka. O Pelourinho físico pode ser só uma má lembrança, mas e o Pelourinho mental que ainda existe na alma de muita gente, o que é que é mesmo? Me lembrei também do comentário do Marreca sobre Idalina, que foi a porta-bandeira de nossa escola de samba Sambafo e que eu narrei aqui. Idalina sofre tanto com isso que padece de um mal que às vezes é considerado por muito como a raíz que está por trás desse sofrimento. Idalina é exímia cozinheira e sustenta suas três filhas com essa sua arte.

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