quarta-feira, 10 de março de 2010

13 de Março de 1823

O escritor piauiense Clodoaldo Freitas destaca em versos a ação dos patriotas em defesa do Piauí:

Parda manhã de março. Espessos nevoeiros
Cobrem o campo fatal de flores matizado.
Propaga o eco o som estrídulo e pausado
Das vozes de avançar em carga dos guerreiros.

Soa o clarim marcial num brado agudo e forte,
Os bravos impelidos às fúrias do combate.
O tropel dos corcéis mais bruscos torna o embate
Dos férreos batalhões marchando para a morte.

Povo do Piauí, vaqueiros e soldados,
Quando a pátria te chama, aflita, nesses dias,
Nessas horas fatais de transas desgraçados,

E que sabes mostrar-te abnegado e valente.
Se Fidié triunfou, tu, ao morrer, sabias
Que a nossa terra ficava independente.

(Clodoaldo Freitas)

Foto:Teresina Panorâmica

9 comentários:

José Miranda Filho disse...

Ainda estamos em março. Então, a propósito do bonito poema de Clodoaldo Freitas, vejamos mais citações. Assim...

Escreveu Fonseca Neto, professor de História da Universidade Federal do Piauí, recentemente empossado na Academia Piauiense de Letras, em artigo intitulado “Ressurreição dos Anjos”, publicado em jornal de Teresina, por ocasião das festividades de 13 de março de 2006: ... no local há um monumento erguido em pedra-concreto para lembrar às gerações que vão passando que aquele é um chão sagrado, sagradas as carnaubeiras, a flora espinhecenta, as moitas de muquém, e as sambaíbas em sua aspereza rimando com a aridez sazonal da terra. Sagrado o chão-tumba de heróis, águas riorentas que lavam os areais de sangue vertido. Sagradas as matinas canoras.” E segue o historiador: “A força vivificadora do heroísmo proclamado naquele obelisco gigantesco da margem esquerda do Jenipapo está revelada em sua explícita intimidade com os céus. O fato de serem anônimos os heróis do Jenipapo confere ao episódio histórico um significado muito maior – a perenidade do morrer coletivamente pela construção do mundo justo ultrapassa qualquer experiência da aventura individual humana.”

José Miranda Filho disse...

José Auto de Abreu, o deputado responsável pela lei que criou o Dia do Piauí, ao dizer que “consagremos o 19 de Outubro, data já justificadamente instituída em lei, efetiva e festivamente reconhecida como o ‘Dia do Piauí”, não se recordou, porém, da Praça da Graça, onde ocorreu a proclamação parnaibana, nem da Praça da Vitória, na qual os oeirenses festejaram sua adesão à Independência do Brasil, em 24 de janeiro de 1823, mas se lembrou de outro lugar e de outro fato histórico, conforme se verá a seguir: “Ainda agora, nesta minha viagem, pernoitando inesperadamente em Salvador/BA, tive a oportunidade de me quedar, no silêncio de uma noite enluarada, ante o majestoso monumento que os baianos erigiram na Praça 2 de Julho (digo eu, Zemiranda, esta a data instituída como o Dia da Bahia, em homenagem não aos dias de proclamações nem de adesões, mas àquele em que, pelas armas, o povo baiano expulsou os portugueses, numa comparação minha ao 13 de Março, em que, pelas armas, muito poucas e inapropriadas, aliás, e muito mais pelo sangue derramado e os efeitos disto, Fidié foi expulso do Piauí). em nome da Pátria agradecida aos seus heróis da independência”.

José Miranda Filho disse...

Prossegue Auto de Abreu: “E admirando as figuras lendárias de Paraguassu, Cabrita e outros esculpidos gigantesca e masculamente no bronze, emocionado voltei o meu pensamento para as campinas de Campo Maior, há mais de século empapadas do generoso sangue de piauienses, que ali tombaram sonhando com a Independência da Pátria, que finalmente nos legaram com o sacrifício da própria vida. Este épico de cruento episódio, que foi a batalha do Jenipapo, jamais deverá ser esquecido nas comemorações, como o estamos fazendo hoje, do ‘Dia do Piauí’. Os heróis anônimos e esquecidos, que ali dormem no sono eterno, são certamente, na sua maioria, a gente simples da nossa terra talvez, o vaqueiro do nordeste – que é expressão de Martins Napoleão (renomado poeta e professor de Português, friso meu) – ‘o mais típico representante da população sertaneja entre nós’. Eles são tão brasileiros e bravos, como bravos e valentes foram os voluntários piauienses, que morreram nos campos do Paraguai em defesa da Pátria, e a cujos feitos me reporto sempre, para relembrar este expressivo trecho da saudação do Marquês de Paranaguá (vulto piauiense do Império, friso), citado por Anísio Brito (o fundador da Academia Piauiense de Letras, friso), quando, em número reduzido, voltavam do campo da luta: ‘Fostes dos primeiros a acudir ao reclamo da Pátria ultrajada, e depois de tê-la vingado nobremente, sois dos últimos a recolher-vos aos vossos lares. A província do Piauí, que concorreu com mais de três mil homens para a guerra, reconhece neste punhado de bravos, os restos gloriosos dos batalhões que formara. Sede bem-vindos, o Brasil estremecido vos acolhe no amplexo expressivo do imperador (Dom Pedro II, friso). E se a gratidão nacional pudesse graduar-se, os últimos seriam os primeiros.’

José Miranda Filho disse...

Continuemos com a nossa leitura: “Eles (os heróis do Jenipapo (grifo) são tão brasileiros e bravos como os brasileiros que dormem o sono da glória, no longínquo cemitério de Pistóia (já ‘dormem’ em monumento no Rio de Janeiro, ressalto). Lá, na Itália, os nossos patrícios descansam velados por sentinelas brasileiros e à sombra de silenciosos ciprestes. Os heróis do Jenipapo repousam sob a vigilância das carnaubeiras. E a brisa suave perpassa pelas folhas farfalhantes, acariciando os seus rústicos túmulos, como que se confunde e se casa, ao alvorecer do dia e ao cair da tarde, e ao longe das campinas, com a melodia das cantigas dos vaqueiros, entoando o seu longo e melancólico aboio. E aquele arroio, de leito seco no verão, - testemunha e palco da pugna homérica, e que no inverno se transforma em caudaloso rio, na primeira enchente após a cruenta luta, lavando as pedras impregnadas, e a terra encharcada de sangue piauiense, correndo para o mar – destino natural dos rios – teria colorido rubramente as águas do Atlântico, à altura do Ceará, Pernambuco e Bahia, para afirmar que os nordestinos, irmanados nos mesmos sentimentos de brasilidade, morreram histórica e fraternalmente abraçados em defesa de um ideal comum a todos – a Independência da Pátria.”

José Miranda Filho disse...

Lembremo-nos desta data, 29 de março - hoje. O Major João José da Cunha Fidié, enviado ao Nordeste do Brasil, mais precisamente ao Piauí, pelo rei de Portugal. para manter esta província - elevada assim pela transformação do país, que se tornara independente após o grito, no dia 7 de setembro de 1822, proferido por Dom Pedro, que, de príncipe. passara a primeiro Imperador do nascente Império brasileiro, - na penosa condição de sua colônia. Depois da Batalha do Jenipapo, cujas violência e demonstração de bravura dos seus inimigos impressionaram o comandante português, que se viu também enfraquecido em recursos humanos e bélicos, aquartelou-se durante apenas 3 dias na Fazenda Tombador, a cerca de uma légua do centro da Vila de Campo Maior. Desencantado com o insucesso desse combate, ele nem entrou triunfalmente na sede da Vila, como procedem os vencedores, para impor seu poder. Passou ao largo dela, desviou-se, e seguiu para se estabelecer à margem direita do rio Parnaíba, como que ponderando sobre um projeto derradeiro de buscar reforço junto à Câmara e ao povo da vila de Caxias, logo ali, à margem esquerda do rio, isto é, no lado do Maranhão, que permanecia como colônia lusitana. Se o auxilio lhe viesse, tentaria prosseguir com a luta no Piauí. Se não, bastaria a ele transpor o Parnaíba e estaria em segurança. Não supunha que as forças piauienses e cearenses o seguiriam até Caxias e que, ao final de um cerco terrível, minando sua teimosa resistência, acabariam por vencê-lo no mês de julho do mesmo ano. Pois foi assim que “Fidié, enfraquecido em suas armas, contra toda a expectativa, em vez de marchar sobre Campo Maior (referindo-se o autor à sede da Vila), retrocedeu para o Estanhado – a hoje cidade de União, à época das lutas pela Independência um povoado da citada vila –, retirando-se para o lado maranhense”, conforme José Auto de Abreu.
(Prosseguirei).

José Miranda Filho disse...

Nesse ponto se constata que – não apenas a Batalha do Jenipapo, com a participação maior de campomaiorenses que de gente de outras vilas (talvez somente do Marvão, atual cidade de Castelo), com o Capitão Luís Rodrigues Chaves, que, aliás, andava acompanhado de mercenários do Ceará, donde ele próprio viera, mas que não se constituía o número esperado, inferior a 100 homens, tanto que, também desiludido com a Junta Governativa, sediada em Oeiras, a capital, que só enviaria tropa para Campo Maior 4 dias depois que “o sangue piauiense corria em ondas, nos campos do Jenipapo” (Abdias Neves), arregimentou, já às vésperas do combate, os homens válidos da Vila (sede) e termo (território campomaiorense), vaqueiros, roceiros e outras classes, sem armas de guerra e disciplina militar, e com uma quantidade ínfima de maranhenses convocados por Alecrim, - a retirada de Fidié para o Maranhão deu-se também em terras de Campo Maior (como resultado de várias escaramuças e nenhuma luta que se possa identificar como batalha), obtida agora por independentes de outras vilas, porém, novamente, com a grande maioria daqueles campomaiorenses que haviam sido “derrotados” no Jenipapo, comandados pelo valoroso filho da Terra dos Carnaubais e que, igualmente, tomara parte na Batalha, Tenente Simplício José da Silva (que não seja confundido com o Coronel Simplício Dias da Silva, que era parnaibano e por aquele tempo se encontrava refugiado no Ceará, desde quando Fidié retomara a vila de São João da Parnaíba para o reino português, após o 19 de outubro de 1822, para onde só retornou depois que o major luso saíra do Piauí.
(Continuarei).

José Miranda Filho disse...

Escreveu Wilson de Andrade Brandão: “Fidié, que vê, cada dia, minguarem os recursos de que ainda dispõe (ora, eu digo, pois perdera muitos deles no Jenipapo e após a luta), perdida a esperança de consegui-los de outra fonte, retira-se do Piauí. Não tem mais o exército de que tanto se jactava. As dificuldades financeiras e as deserções constantes reduziram os legalistas a algumas poucas centenas (complemento eu, também conseqüência do 13 de março, vez que soldados de Fidié ou, simplesmente, fugiram, ou se passaram para o lado dos separatistas). Estanhado é o ponto de concentração das forças independentes. Não há outro objetivo nessas providências, senão combater o ex-governador das armas na última trincheira piauiense. Fidié sente-se acossado e em perigo. E transpõe o Parnaíba.” Era ainda o mesmo mês em que se travara a Batalha, março, dia 29; portanto, também significativa data da história de nossa libertação e consequência direta da outra, a mais importante de todas, em que ocorreu o único combate verdadeiramente sangrento no Maranhão, Piauí e Ceará, pró-independência – 13 de março. E depois somente 16 dias desta.
Mas o 29 de março passa despercebido do nosso povo, quiçá, até, e particularmente, do município de União.

Ana Lucia disse...

Parabéns Zé, uma verdadeira aula de História do Piauí!

José Miranda Filho disse...

Muito obrigado, Ana, por sua generosa consideração.
Não posso prolongar, por recomendação médica, em face de recente cirurgia de catarata (olho direito). Na próxima semana, farei no esquerdo. E fui avisado: abstinência visual por um certo tempo.
Abraço.

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