segunda-feira, 14 de março de 2011

Do Blog do Escritor Paranaense Laurentino Gomes...

OS HERÓIS ANÔNIMOS DO JENIPAPO

Chego a Teresina, com chuva e temperatura amena, para a cerimônia de homenagem aos mortos da Batalha do Jenipapo, ocorrida há exatos 188 anos. Foi o mais trágico, e também o mais simbólico, de todos os confrontos da Guerra da Independência. Brasileiros e portugueses se bateram entre as nove horas da manhã e as duas da tarde de 13 de março de 1823 nas margens do Rio Jenipapo, no município de Campo Maior. O resultado foi uma carnificina: cerca de 200 piauienses e cearenses mortos e mais de 500 feitos prisioneiros. As perdas representaram um terço do improvisado exército brasileiro composto em sua maioria por vaqueiros, comerciantes, alguns vereadores, um juiz, além de velhos e adolescentes. Os portugueses, comandados pelo major João José da Cunha Fidié, tiveram apenas dezesseis baixas.

Para os portugueses, foi uma vitória com sabor de derrota. Fidié rapidamente chegou à conclusão de que seria inútil resistir à onda revolucionária iniciada mais de um ano antes no Rio de Janeiro com o Dia do Fico (9 de janeiro de 1822) e reforçada no Grito do Ipiranga, a 7 de setembro do mesmo ano. A tragédia do Jenipapo demonstrava a determinação dos brasileiros de lutar ao lado do imperador Pedro I pela independência, mesmo que de forma desorganizada e à custa da própria vida. Por isso, em vez de prosseguir até Oeiras, a então capital do Piaui a esta altura também em mãos dos revolucionários, Fidié decidiu cruzar o Rio Parnaíba e se refugiar na cidade maranhense de Caxias, ainda controlada pelos portugueses. Ali foi cercado, preso e deportado para o Rio de Janeiro.


O escritor paranaense dedicou um capítulo do seu mais recente sucesso editorial, ao episódio da Batalha do Jenipapo em Campo Maior, Piauí.

Na tarde deste 13 de março de 2011, os heróis do Jenipapo serão momenageados em cerimônia ao pé do monumento erguido no local da batalha, com a presença do governador Wilson Martins (PSB) e outras autoridades. O monumento está situado em meio a uma floresta de carnaúba às margens da BR-343, a rodovia que liga a capital Teresina à cidade de Parnaíba, no litoral piauiense. Amanhã, segunda-feira, o episódio será lembrado também em sessão solene do Senado proposta pelo senador Wellington Dias (PT-PI). Tive a honra de ser convidado para os dois eventos pela inclusão no livro “1822” de um capítulo sobre a Batalha do Jenipapo. Na solenidade de hoje à tarde vou receber a medalha da Ordem Estadual do Mérito Renascença, a mais alta honraria concedido pelo governo do Piauí. Paranaense de nascimento, sinto-me dessa forma promovido ao posto de piauiense de coração.

Infelizmente, a Batalha do Jenipapo costuma ser ignorada pelos brasileiros das outras regiões. Nunca é citada nos livros didáticos e raramente aparece entre os relatos da Independência. As tumbas dos seus heróis anônimos em Campo Maior contem, no entanto, uma preciosa lição. É um erro acreditar que as regiões Norte e Nordeste apenas “aderiram” ao império do Brasil depois que a independência já estava assegurada no sul do país. Por essa interpretação equivocada, a decisão teria se tornado inevitável diante da consolidação do poder de D. Pedro no Rio de Janeiro e do enfraquecimento da metrópole portuguesa às voltas com dificuldades políticas e financeiras. Na verdade, a independência nessas regiões foi conquistada palmo a palmo ao custo de muito sangue e sofrimento. Foi, portanto, uma vitória de todos os brasileiros.

Caricatura: do campomaiorense radicado na terra do Laurentino, João de Deus Netto.
Foto da entrega da comenda: Zeferino Zan - Blog Zanzando na Rede
Foto do Monumento na arte da template(cabeçalho): TeresinaPanorâmica

7 comentários:

Dodó Macedo disse...

Reproduzi esse post em meu blog http://domacedo.blogspot.com/ .
Grande abraço ao Netto, Zan e demais campomaiorenses.

Simão Pedro disse...

Justa e merecida.

WASHINGTON ARAÚJO disse...

Os livros do Laurentino são fruto de extensa pesquisa histórica e trazem as mais relevantes informações sobre a independência do Brasil, desde a fuga da família real para o Brasil, até a consolidação do Império, e tem o mérito de mostrar a importância da Batalha do Jenipapo para a integridade territorial da América portuguesa.
O Piauí já outorgou essa comenda a pessoas menos merecedoras.

João de Deus Netto disse...

Desculpem o longo intervalo entre a chegada dos nossos valiosos comentários e opiniões, e a conseguinte liberação.
Ano novo, finalmente, começando e com ele a chegada de trabalhos que alimentam nossa barriga e a lareira(rsrs), aqui na gelada Curitiba.
Ah, sem falar do novo fenômeno em comentários no post "Deprê pós-carnavalesca"...Que também toma tempo, mas nada que impeça a leitura e a possível liberação, visto que o nível melhorou bastante.
Divirtam-se e comentem!
Té mais.

Zé Borges disse...

Na estória do trem maria fumaça sobrou até para o prefeito Raimundin Andrade. Mais essa conversa eu escutei foi bem mais perto e não foi com ele não. foi com gente grande e importante que ainda tão vivinho da Silva em Campo maior e Teresina. primero eles vendião a madeira pra botar os trilho emcima e mais pertinho ajudaram arrancar os trilho e vender no quilo. tem gente que mora perto ali da água branca e tambem lá daquela estação entre Altos e Teresina onde tinha uma plantação enorme de laranja que via as carreta Escania levando os trilho e que depois diziam que ia pra Salvador.
É muita cara de pau agora vim com o professor Raimundinho que morreu faz um monte de tempo. Isso foi outro dia.

João de Deus Netto disse...

Caríssimos leitores, por favor, façam seus valiosos comentários no post que serve de referência para tal.

José Miranda Filho disse...

Justíssima a homenagem - aliás, as homenagens - prestadas a Laurentino: comenda Renascença (a mais importante do Piauí, concedida pelo governo estadual) e a Medalha Heróis do Jenipapo (outorgada pela prefeitura municipal). Homenagens às quais o João de Deus Netto fez jus, também, no ano passado. Ora, enquanto um jornalista/escritor lá do longínquo Paraná demonstra imenso interesse por nossa história, enaltece o nosso mais valioso feito, um tolo cá do próprio Estado, natural mais precisamente dos Autos de João de Paiva, vizinhos da gloriosa gleba do Campo Maior, com uma reportagem fajuta, indaga o porquê de se celebrar o 13 de março. Ele questiona o episódio, perguntando: "Comemorar uma derrota?!" Não sei se valeria a pena mencionar o seu nome. Mas posso, se alguém o desejar. Imbecil!

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