terça-feira, 18 de outubro de 2011

Piauí, terra querida!

(clique e amplie as fotos)
Paisagem rural tendo ao fundo a Serra Azul de Campo Maior, Piauí.

PIAUIÊS, OBRA DE REFERÊNCIA DO ANTONIO HOUAISS

“Penetra surdamente no reino das palavras”, recomenda mestre Drummond com a suavidade dos nativos das Alterosas. Mas como, se no Piauí temos o hábito da fala escancarada, do jeito desabrido, despachado, desbocado, desaforado de nos expressar? Os piauienses, dizemos que um camarada se empriquitou, aberturou, e abanou os queixos de outro, encangando palavras e expressões de enorme riqueza vocal e visual e que só funcionam se ditas em voz alta. Surdamente, poeta? Mas como?

Somos o que nos diferencia. Mineiros falam baixinho, e dizem que assim o fazem na vocação de eternos conspiradores, no rastro da conjuração liderada pelo alferes. Gaúchos são arrogantes no falar, herança da lida pesada nos pampas fronteiriços do Uruguai e da Argentina, onde valentia e macheza exigiam equivalente expressão oral. Baianos têm fala demorada, produto da riquíssima contribuição dos negros cativos. Cariocas, cercados de montanhas, praias, e florestas (e de sereias que provocam a libido com sua morenice bronzeada), tinham de ter mesmo aquele jeitão malandro, aquele chiado gostoso em cada palavra terminada em S. E nós?


Forjados no calor do sol do Equador, montados em cavalos de campos, derrubando bois brabos e traçando a peixeira o mapa da civilização do couro, ou no amanho da terra seca onde se cultivam roças de subsistência, adquirimos esse jeito escancarado de falar. Mas igualmente criamos uma outra fala, miúda, mastigada, essa que se ouve no bruburinho das feiras, quando alguém diz mesmo assim: Siá, te avia que já tá meidiínha, o feijão tá no fogo e tem uma comandita de gente pra comer. Magina se queima... Eu nem digo nada. Hum! Hum-um...


Localidade Canto do Periquito no município de Campo Maior

Mas no geral, penetramos mesmo é ruidosamente no reino das palavras. E nesta eloqüência tropical criamos palavras, inventamos expressões, construímos uma “fala” (não uma língua), exercitamos um ritmo, um acento e um tom (parte deste universo a que chamamos “linguagem”). E fomos desenvolvendo uma exclusivíssima “personalidade” verbal – este conjunto a que chamamos de Piauiês.



“Identidade é o que se forma quando não nos dão nada e o que sobra quando nos tiram tudo”.


Que outros enamorados do Piauí, como eu, tragam mais tijolos para ajudar a erguer a catedral que homenageia a bela e rica cultura piauiense, primeiro suporte da identidade que alimenta auto-estima de nosso povo.

Paulo José Cunha é professor, poeta e jornalista em Brasília. Autor da Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês que já se encontra em fase de formatação da 5ª Edição, com a participação deste artista gráfico que vos bloga. 


Fotos: Elmar Carvalho

6 comentários:

Horácio Lima disse...

A natureza declina-se na comida mais simples. Todos os animais, exceto o homem, comem em um só prato. (Joseph Addison)



sp, 19 de out. 11

João de Deus Netto disse...

Horácio, os muçulmanos não ocidentalizados, (uns 99,999% ) todos comem de uma só "bacia" no centro da mesa (ou chão atapetado) e com as mãos!
Ainda vou na Palestina ensinar como se faz um "capitão", e não será difícil, já que a cozinheiras por lá têm as manhas de fazer quibes, inclusive, cru.
Alláh Akbar! E só Ele!

Horácio Lima disse...

Netto, sempre que vou a Campo Maior, peço para minha mãe temperar no capricho um "capitão de feijão" para recordar os tempos da minha avó Chiquinha.


sp,

Júnior Araújo disse...

Netto, tive a oportunidade de presenciar esse costume mulçumano em Dubai, realmente eles comem assim mesmo, mas te garanto que eles fazem o capitão sim.
Rapaz eu sentí um nojo danado, e nós todos sentados no chão com a bacia de comida em cima de um tapete. Eu falei pra dona casa que antigamente a gente com a mão.

João de Deus Netto disse...

Agora imagina uma ceia em uma aldeia qualquer da Somália? Já poderemos ficar felizes em saber que terão o que comer.
O "capitão" é o remédio mais eficiente pro "fartí". rs rs!

José Miranda Filho disse...

Contemplando a casa do Canto do Periquito, me vi, tomado de saudade, da casa do "São Luís". A varanda, as árvores frondosas, os arbustos e as ervas; o terreiro de "terra batida". Principalmente, o grande número de pessoas ali reunido, aos domingos, em cadeiras de pano, redes e nas próprias raízes expostas das mangueiras - a alegria de compartilhar com quase todos os tios e todos os primos, ainda vivos, do encontro dominical.

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